O espectro autista se traduz por uma ampla manifestação de sintomas como problemas de comunicação e interação social nos mais diferentes graus, sempre com dificuldades na formação de vínculo, comportamentos repetitivos, interesses restritos, manias e estereotipias. A enorme variedade e sutileza dos quadros traz a dificuldade de diagnóstico.
– Fernando é uma criança de 6 anos, com sérios problemas de adaptação escolar. Na escola é agressivo, faz birra, fica emburrado e vai para debaixo da mesa, se machuca e machuca os outros. Por outro lado, frequentando a primeira série, já sabe todos os conteúdos dessa e da segunda série também. No recreio não interage. Se a mãe está presente como acompanhante em sala de aula, se acalmava e participa mais. Fora do ambiente escolar, é extremamente cativante pela agudeza e agilidade de seus raciocínios, bem como envolvente por sua alegria e variedade de seus interesses. Nada disso surge na escola.
– Lúcio foi à consulta pela primeira vez com 2 anos e 10 meses. Palavras da mãe: “Vem apresentando um certo atraso no desenvolvimento. Sentou com 10 meses, andou mais tarde. Déficit na fala. Bem aquém. A falta de presença no olhar, já estava presente quando bem menorzinho mesmo… impulsivo, sempre se jogou, vai com a cabeça; falta de equilíbrio. … Nada faz ele parar… não falava nada até 2 anos. Um dia ele chegou e “Good morning, mom!” , me dando bom dia em inglês. Ninguém lá em casa fala inglês. A partir do inglês começou a se comunicar comigo. Antes não eram balbucios, eram palavras em inglês. …. ” É uma criança alegre, muito meiga e carinhosa. Criativo, faz desenhos surpreendentes.
– Alberto falou com 10 anos mas os pais descobriram que ele já sabia ler. Não falava, apontava as coisas. Tinha uma hipersensibilidade auditiva e mesmo se falassem baixo, atendia. Foi melhorando e a cada dia se tornando mais dócil, carinhoso. Hoje trabalha, tem uma vida plena de sentido e realizações, embora seja inibido, reservado. Tem um modo muito peculiar de falar e está muito empenhado em se desenvolver nesse sentido. Trabalha há anos numa grande empresa de telecomunicações, em atividade de informática. Tem autonomia para se locomover na cidade, é uma pessoa ética, pontual, responsável e se preocupa com a coletividade.
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Acima temos relatos reais de crianças com diagnóstico do espectro autista.
Através desses relatos, percebemos que quanto mais cedo for feito o diagnóstico de autismo, melhor o prognóstico. Através de uma observação profissional aprofundada e com a aplicação de medidas terapêuticas adequadas para a promoção do amadurecimento físico, emocional e social da criança, seu potencial e talentos se revelam plenamente.
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O que é, portanto, necessário para que se dê um desenvolvimento máximo do autista, quanto a seus potenciais e talentos?
Este potencial inimaginável se revela com o suporte de todo um equipamento social que dá a base para a formação do vínculo interpessoal: um lar amoroso, uma escola adequada, compreensiva e acolhedora; profissionais de promoção de saúde com suas terapias e medicações selecionados a partir da visão ampliada desses potenciais individuais. Os autistas têm uma vida interior rica, apesar dos variados desafios de comunicação. Eles têm dons, talentos especiais que devem direcionar as escolhas com relação à educação e socialização.
Falando sobre o diagnóstico do autismo
O diagnóstico do autismo é clínico, feito através de observação direta do comportamento do paciente e de uma entrevista com os pais ou responsáveis. A escola também é uma fonte importante de dados para o diagnóstico.
Os sintomas costumam estar presentes antes dos 3 anos de idade,
sendo possível fazer o diagnóstico por volta dos 18 meses de idade.
Os pais devem estar atentos a possíveis sinais de um desenvolvimento alterado, que possam indicar a possibilidade de autismo. O reconhecimento precoce, a procura de ajuda especializada e o pronto tratamento determinam um progresso significativo no desenvolvimento do aprendizado, de habilidades sociais e comunicação.
A ausência de alguns comportamentos no primeiro ano de vida são sinalizadores para os pais levarem sua criança para um pediatra avaliar a possibilidade do autismo.
As seguintes marcas evolutivas podem indicar o risco, como um sinal vermelho:
A falta de sorrisos ou expressões alegres e calorosas na interação do bebê com sua mãe no primeiro semestre de vida
A falta de troca de sons, sorrisos e outras expressões faciais com os familiares ou mesmo a angústia frente a estranhos em torno dos 9 meses
A falta do balbuciar até um ano
A falta de gestos de comunicação como apontar, mostrar, dar tchau
A falta de palavras aos 16 meses
A falta de palavras- frases em torno dos 2 anos.Qualquer regressão ou perda da linguagem ou de habilidades sociais já adquiridas em qualquer idade.
O M-CHAT ( lista modificada para autismo de crianças pequenas) é uma ferramenta importante para os pais, que ajuda a determinar a necessidade de ajuda profissional. Ela está disponível em: http://autismo.institutopensi.org.br/ferramentas-de-apoio/instrumentos-diagnosticos/escalas-m-chat/, é simples e toma poucos minutos de atenção, podendo mudar o futuro da criança.
O papel da escola no diagnóstico precoce
Professores são qualificados pelas suas formações a observar as diferenças de desenvolvimento das crianças e relatar se a criança está ou não se comportando de forma coerente com a faixa etária. O papel dos professores não é fazer diagnóstico de alunos, no entanto, as colocações de professores e da escola, podem ser significativas e interferir positivamente em todo o futuro de seu filho.
Porque é importante estar atento às observações dos professores
Professores são as pessoas que inicialmente mais podem pontuar as diferenças no desenvolvimento evolutivo das crianças. Para pais de um primeiro filho as observações feitas na escola podem ser o primeiro sinal de alerta sobre alguma dificuldade ou problema. As observações devem ser consideradas criteriosamente. Se a professora sugere que a criança deveria passar por uma avaliação profissional, deve-se perguntar o motivo e pedir para que liste e documente suas observações de comportamentos que estejam fora do esperado. Se possível os pais devem observar os coleguinhas de classe do filho e complementar com seu próprio julgamento.
Caso seu filho esteja correndo na hora de formar uma fila, e outras 6 crianças estejam fazendo o mesmo, este provavelmente não é uma questão de seu filho, mas de administração de comportamento do grupo. Se ele se mantém isolado, não se relaciona com as demais crianças em brincadeiras, fala pouco ou não forma frases na faixa de três anos de idade, pode ter questões a serem aprofundadas.
O que fazer se você concorda que uma avaliação de seu filho deva ser feita
Caso vc tenha clareza que as observações da professora ou escola são procedentes, e que seu filho precisa ser avaliado por causa de suas atitudes ou dificuldades, procure profissionais especialistas, para fechar um consenso.
Vários são os casos de pacientes que ficam anos em terapias que não focalizam as dificuldades da criança no contexto de uma doença, síndrome ou distúrbio. Nesses casos, quando o diagnóstico é finalmente fechado, a família se entristece com o tempo gasto com resultados menos significativos, pela falta de foco nos tratamentos.
É importante notar que a pesquisa pode revelar uma graduação grande em termos de severidade e abrangência do quadro, e que há questões simples que podem fazer muita diferença, se tratadas adequadamente, sem demora. VIDEO
Porque os primeiros sinais de autismo podem passar desapercebidos
Como exemplificado, o espectro autista é muito amplo. A criança pode falar algumas frases como esperado para aquela fase do desenvolvimento, mas quando observada fora de um espaço e período limitados como numa consulta, vários outros aspectos podem vir à tona. Embora fale, sua fala pode ser ecolálica, ou seja, repetitiva e involuntária, não refletindo um aprendizado ou intencionalidade.
A falta de integração com os coleguinhas e com familiares, pode facilmente ser confundida com timidez. O fato da criança ser muito inteligente e ser exímia em computação, não excluem a possibilidade de estar dentro do espectro. Por isso, é muito importante os pais estarem cientes de detalhes a serem observados na criança e sinalizarem padrões de comportamentos para profissionais treinados. Leia as referências ao final. Os pais na grande maioria das vezes, percebem que há algo de diferente com a criança, mas muitos desejam apenas escutar dos profissionais que procuram, que tudo está bem, de acordo com o esperado.
Além disso, um agravante, é quando um dos pais não avança em ações para definir o quadro, quando percebe que o outro terá dificuldades em aceitar a criança como diferente de suas expectativas. É comum um dos pais caminhar sozinho por algum tempo, até que o outro perceba o quanto as peculiaridades da criança o tornam especial, e seus talentos muitíssimo significativos se apoiados e bem direcionados desde cedo. https://www.youtube.com/watch?v=r84VRCwgoIA
Os autistas possuem muitos talentos e capacidades acima do convencional. Cabe encontrarmos soluções que podem até serem simples e prazerosas de implementar. Mudanças e novas propostas de atividades não precisam ser caras, complicadas ou implicarem em sofrimento. Pelo contrário, essa mudança de visão e perspectivas, é o que torna a vida da família rica de novas possibilidades e muitas alegrias, com a constatação dos resultados.
Quais as preocupações mais frequentes dos pais de crianças que recebem o diagnóstico? E qual a cura para essas preocupações?
A primeira preocupação dos pais refere-se à autonomia da criança, enquanto adulto. Por isso, escutar e ler sobre autistas que acharam seu caminho de felicidade e realizações na vida é tranquilizador. Portanto, ter uma visão clara do quadro, em todas as suas peculiaridades, é fundamental. Um psiquiatra infantil (fazer link com artigo sobre a abrangências e peculiaridades da psiquiatria infantil), que estuda os meandros do desenvolvimento infantil, pode ser a melhor indicação nesse sentido. Todos os seres humanos possuem mais facilidade para uma área ou outra. Cabe aos pais, facilitar um aprofundamento bem direcionado dentro desse universo do autismo. VIDEO
Em tudo há diferentes formas de encarar um fato. Nesse tema de autonomia e sustentabilidade do autista, ocorre o mesmo. Um dilema dos pais é como seu filho tão inocente e ingênuo não vai sofrer, numa sociedade como a nossa. Essas crianças tomam as coisas ao pé da letra, não conseguem entender que “gatinho” pode ser o mesmo que “bonitinho”. E não têm maldade, malícia. Por outro lado, são éticos e verdadeiros. Acreditam que seu agir no mundo pode sim transformar realidades. Têm esperança e interesse sincero no todo, no bem social, no planeta. E conseguem agir nessa direção, prova disso são os relatos de autistas.
Agora, se nem os pais são capazes de valorizar e tomar as rédeas dessa vida em suas mãos, o que esperar da sociedade? VIDEO Ao invés de nos perdermos em visões negativas e reclamações, somos nós que devemos descobrir, valorizar e ressaltar as qualidades únicas de nossos autistas. Essa é a cura. Esse é o caminho encantado da esperança e da transformação. https://www.youtube.com/watch?v=dbGzRLIk2pA
Veja o video a seguir sobre Diagnóstico de Autismo em Crianças https://www.youtube.com/watch?v=k2lno4WdEsU
Autores: Dr. Marcelo Friedlaender, especialista em psiquiatria geral com área de atuação em psiquiatria de crianças e adolescentes, especialista em homeopatia e com orientação Antroposófica.
Dra. Carmem Silvia, Dentista de Criança da Clínica Amai.
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